- Está vendo como estão brilhantes?
- Do que é que você está falando?
- Lá! - e apontou as jabuticabas.
- E daí? Jabuticabas brilhantes, legal...
- Não é possível que você não sabe do que eu estou falando! - dessa vez ele fazia gestos frenéticos com as mãos.
- Não, não sei do que vc está falando. E será que você podia parar com isso? Já era para estarmos em casa. Não quero ter que martirizar meus joelhos outra vez.- disse Ana em um tom desdenhoso.
- Mas, Ana, olhe aquelas jabuticabas e me diga o que você vê.
- Moleque atrevido! São só jabuticabas, normais, como quaisquer outras.
- Não, não são - retorquiu Pedro.
- Ah é? Então me diga o que têm de mais, as jabuticabas...
- Elas têm um portal, cada uma. Eles nos levam para um mundo extraordinário.
- Você anda imaginando muitas coisas demais. Já devia ter amadurecido essas ideias. Você não é mais tão criança assim.
- E você devia acreditar mais em mim. Como sendo mais velha, deve saber que crianças da minha idade não mentem. - disse-lhe, amarrando a voz - . Já que é tão velha, como assim diz.
- Você é muito atrevido. Não devia dizer essas coisas à sua irmã mais velha.
- Fique só por mais alguns minutos. Até que você consiga enxergar os portais das jabuticabas.
- Não! Tenho que levar-lhe ao casarão no horário delimitado. Já esqueceu da surra de vara? Não queira levá-la outra vez - disse em tom desesperado - Mesmo porque mamãe não é de brincadeiras.
- Mas e as jabuticabas?
- Pedro!
- Ana!
- Olhe, va lá, mostre-me essas jabuticabas, portais, seja lá o que for!
O menino foi se esquivando dos pequenos gravetos no chão. A grama alta o impedia de correr com mais velocidade. Pegou um graveto do chão, apontou-o em direção às jabuticabas do pé e chamou a irmã:
- Venha! Veja!
Ana dirigiu-se ao pé das frutinhas negras e ficou plantada ali olhando.
- Não estou vendo nada!
Olhou para os lados e o irmão ja corria a muitos metros a frente.
- Pedro!
E o menino subiu a encruzilhada rindo, fazendo fuscas de zombaria.
Rafael Villas Boas
domingo, 3 de abril de 2011
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