quinta-feira, 5 de maio de 2011

Coringa

Céus! Ele foi se aproximando tão depressa, que a pobre mal teve tempo de correr; não foi o que fez.
O gingado do homem-manequim era perfeito, quase desfilava. Seu rosto pintado, ora preto, ora branco, com cílios enormes, e na cabeça chapéu de bubão. Palhaço!
Veio vindo. Veio. Chegou perto, olhou-a com cautela planejada, sentiu seu cheiro adocicado, tocou-lhe os lábios e soltou gargalhadas sutís.
A moça, assustada, recuou, sobressaltou em movimentos singulares, e o Coringa a sua frente continuou rindo, festejando abobado. Deu-lhe rosas. Mas a palerma não aceitou; chorou.
O coringa disse-lhe versos, contou-lhe o amor... contou-lhe o amor? A moça chorona caiu feito pássaro em armadilha: beijou o coringa.
Foram indo de mãos dadas até uma ponte, perto da charneca. O coringa desapareceu, deixou-a ali sem ter o que fazer e saiu à procura de mais alguma bobinha que caísse em suas graças.


Rafael Villas Boas

Nenhum comentário: