Tínhamos, mais ou menos, dois terços da renda negreira vista por ali; uma verdadeira população escrava vivendo em nosso latifúndio.
Meu pai vivia dizendo que tocava a economia da fazenda afã de mim e minha mãe; o que me intrigava era que, para ele, nada mais importava se não o desejo de tornar-se cada vez maior e mais poderoso. Havia mês que eu não o via, visto que sempre estava viajando a negócios. A Inglaterra já se tornara seu ponto de passeio; vivia buscando novas formas de comercialização em outros países, até mesmo no território da coroa.
Ficávamos em casa, minha mãe, a Mucama, um negrinho - que apelidávamos de Torim - e eu. Os negros que viviam na Casa Grande só estavam ali por ordens de meu pai, se não as tivesse o feitor jamais permitiria na ausência do senhor.
Mas ainda havia muitos atos que a mim desagradavam: negros eram surrados por ali, açoitados até a morte; comiam mal, dormiam de forma péssima, sequer poderiam chamar de lar o local em que viviam. Os privilegiados eram só a Mucama, que cosia, costurava e era o braço direito de minha mãe, e o danado do Torim, que odiava meu pai de forma decidida.
Certa vez quase foi para o tronco, com outros seis escravos, o Torim, que afrontara o feitor corajosamente. Minha mãe interviu, competente, e nada aconteceu.
É certo que eu jamais quero seguir os negócios de meu pai. Não quero ser senhor de ninguém, bem como ser o mandante de surras e açoitamentos. Se fazendeiro for, então serei da minha forma. Pagarei pelos serviços prestados, contratarei trabalhadores que recebam pelo seu esforço.
Em tempos como estes, meus ideais são repulsivos, doravente farei o possível para reformar nossa política.
Ainda haverá o dia em que muitos irão se alegrar com a abolição da escravatura, que, assim espero, logo virá.
Rafael Villas Boas
Meu pai vivia dizendo que tocava a economia da fazenda afã de mim e minha mãe; o que me intrigava era que, para ele, nada mais importava se não o desejo de tornar-se cada vez maior e mais poderoso. Havia mês que eu não o via, visto que sempre estava viajando a negócios. A Inglaterra já se tornara seu ponto de passeio; vivia buscando novas formas de comercialização em outros países, até mesmo no território da coroa.
Ficávamos em casa, minha mãe, a Mucama, um negrinho - que apelidávamos de Torim - e eu. Os negros que viviam na Casa Grande só estavam ali por ordens de meu pai, se não as tivesse o feitor jamais permitiria na ausência do senhor.
Mas ainda havia muitos atos que a mim desagradavam: negros eram surrados por ali, açoitados até a morte; comiam mal, dormiam de forma péssima, sequer poderiam chamar de lar o local em que viviam. Os privilegiados eram só a Mucama, que cosia, costurava e era o braço direito de minha mãe, e o danado do Torim, que odiava meu pai de forma decidida.
Certa vez quase foi para o tronco, com outros seis escravos, o Torim, que afrontara o feitor corajosamente. Minha mãe interviu, competente, e nada aconteceu.
É certo que eu jamais quero seguir os negócios de meu pai. Não quero ser senhor de ninguém, bem como ser o mandante de surras e açoitamentos. Se fazendeiro for, então serei da minha forma. Pagarei pelos serviços prestados, contratarei trabalhadores que recebam pelo seu esforço.
Em tempos como estes, meus ideais são repulsivos, doravente farei o possível para reformar nossa política.
Ainda haverá o dia em que muitos irão se alegrar com a abolição da escravatura, que, assim espero, logo virá.
Rafael Villas Boas
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