sábado, 7 de maio de 2011

beatriz

Beatriz não cansava de colher as flores, mesmo que estas estivessem secas, mortas.
Beatriz encontrava vida naqueles ápices de vegetais. Como podia?
Nas manhãs belas, ressalvas da noite úmida, ela sempre corria até o jardim, coberto pelo orvalho, e já ia logo acariciando as pétalas molhadas - ora coloridas, ora mortas e secas. Mamãe gritava: o café ja estava posto e Beatriz nem sequer lavara os olhos, tampouco fora dar beijos afetuosos na vovó Mercedes.
Vinha trazendo várias margaridas e hortências; rosas e tulipas. Punha-nas dentro de um vaso e sentava-se ao lado para realizar seus tantos meios.
Por que era assim, a Beatriz? Por que gostava tanto de flores?
Beatriz me disse que gostava delas pelo simples fato de simbolizarem etapas...
Não entendi muito bem, mas quando Beatriz escreveu sobre flores na escola, ganhou nota máxima em redação. Enquanto eu, que escrevi sobre robôs e máquinas, tirei a pior das notas e frustrei meu professor - que até hoje vive dirigindo-se à mim, mencionando Beatriz de uma forma sutil.


Rafael Villas Boas

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Coringa

Céus! Ele foi se aproximando tão depressa, que a pobre mal teve tempo de correr; não foi o que fez.
O gingado do homem-manequim era perfeito, quase desfilava. Seu rosto pintado, ora preto, ora branco, com cílios enormes, e na cabeça chapéu de bubão. Palhaço!
Veio vindo. Veio. Chegou perto, olhou-a com cautela planejada, sentiu seu cheiro adocicado, tocou-lhe os lábios e soltou gargalhadas sutís.
A moça, assustada, recuou, sobressaltou em movimentos singulares, e o Coringa a sua frente continuou rindo, festejando abobado. Deu-lhe rosas. Mas a palerma não aceitou; chorou.
O coringa disse-lhe versos, contou-lhe o amor... contou-lhe o amor? A moça chorona caiu feito pássaro em armadilha: beijou o coringa.
Foram indo de mãos dadas até uma ponte, perto da charneca. O coringa desapareceu, deixou-a ali sem ter o que fazer e saiu à procura de mais alguma bobinha que caísse em suas graças.


Rafael Villas Boas